31052019
Neymar, outra vez dúvida quando Seleção precisa. Mas a culpa é dele?
Ainda que, após a realização de exames em Teresópolis, a lesão no joelho esquerdo de Neymar não seja grave, a situação preocupa. Especialmente pelo histórico do jogador e da Seleção Brasileira sem a sua referência técnica dentro de campo. Na preparação visando a Copa América de 2019, que será realizada em nossa casa, o camisa 10 não treinou com os demais companheiros desde a finalização que terminou em um andar manco na terça-feira (28). E mais uma vez o Brasil chega para uma competição importante sem ter o seu craque nas melhores condições.
Depois de sua estreia, em 2010, Neymar pouco a pouco passou a ter o papel de protagonista na equipe nacional. Não foi de uma vez para a outra. Quando disputou todos os quatro jogos até a eliminação do Brasil nas quartas de final da Copa América de 2011, para o Paraguai, ainda não era a referência técnica incontestável, absoluta e com respeito mundial. Isso aconteceu pela primeira vez em 2013, em meio à Copa das Confederações na qual participou de seis gols [quatro tentos e duas assistências] e foi decisivo na vitória por 3 a 0 sobre a Espanha na finalíssima. Justamente a última taça levantada pelo selecionado principal.
Em 2014, o camisa 10 fazia uma grande Copa do Mundo até as quartas de final. O Brasil treinado por Luiz Felipe Scolari não encantava, mas Neymar resolvia individualmente e o fez até aquele fatídico jogo contra a Colômbia – no qual deu assistência para o primeiro gol no triunfo por 2 a 1. No entanto, a lesão na coluna sofrida após dura entrada de Zuñiga tirou o craque do time e, sem ele, veio a derrota de 7 a 1 na semifinal contra a Alemanha e os 3 a 0 dos holandeses na disputa do terceiro lugar. O conceito da Seleção perdida sem um único jogador, algo mais comum a países com pouca tradição no esporte, ganhou espaço gigantesco. E, infelizmente, justificado.
O problema foi que desde então o maior craque brasileiro em atividade ou era desfalque por suspensões oriundas pelo acúmulo de cartões... ou por não estar em suas melhores condições físicas.
Depois da Copa das Confederações de 2013, a única vez em que o nome de Neymar não esteve acompanhado da palavra “lesão”, na caminhada dos torneios disputados com o Brasil, foi na Copa América de 2015. Daquela vez o camisa 10 recebeu um cartão vermelho que rendeu suspensão de duas partidas. Ele era capitão e, após derrota por 1 a 0 para a Colômbia, ainda na fase de grupos, foi expulso de maneira infantil e desfalcou a Seleção justamente na partida que terminou em desclassificação: novamente nas quartas de final, outra vez com os paraguaios como algozes.
A exceção foi uma exceção: o Ouro Olímpico conquistado nos Jogos do Rio em 2016. Mas ainda que a pressão pelo lugar mais alto do pódio tenha sido grande, não é um torneio ‘profissional’ sob os olhos da FIFA: as seleções são compostas em sua maioria por jogadores sub-23, tendo os craques mais experientes como adições específicas. Naquela oportunidade nem o treinador da Seleção era o mesmo da equipe principal: a responsabilidade ficou com Rogério Micale. Pouco antes Dunga havia sido demitido justamente por causa de um péssimo resultado obtido sem poder contar com Neymar, a Copa América Centenário disputada também naquele ano de Olimpíadas.
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O Barcelona, clube defendido por Neymar à época, decidiu liberar o atacante somente para uma competição. A escolha do jogador e da CBF foi pelos Jogos Olímpicos e, nos Estados Unidos, o Brasil de Dunga sequer avançou da fase de grupos do certame continental. Não havia mais como seguir. E a seguir deu-se início a ‘era Tite’ na Seleção Brasileira. A Lua de Mel a partir de então foi longa, até a eliminação para a Bélgica nas quartas de final da Copa do Mundo de 2018. Uma competição que não contou com Neymar em suas melhores condições, já que meses antes ele havia sofrido uma lesão no quinto metatarso do pé direito, enquanto defendia o PSG, e voltou a jogar semanas antes do campeonato na Rússia.
Sem estar nas melhores condições, Neymar não foi nem mesmo o grande destaque do Brasil no torneio. Tentou bastante, mas caiu mais e exagerou de forma desproporcional às quedas. Terminou o maior torneio do futebol mundial como o maior motivo de memes e piadas. Philippe Coutinho foi, segundo a opinião de muitos [inclusive na deste que escreve o texto] o melhor jogador do Brasil do meio para a frente: começou bem, gerou expectativa por causa da excelente qualidade técnica, mas caiu de rendimento a partir do mata-mata. Não conseguiu dar o toque decisivo que, por exemplo, sobrou na equipe belga.
É muito importante destacar que se Neymar teve alguma culpa em alguma destas suas ausências, foi unicamente quando ele próprio, através da falta de disciplina, foi responsável por elas. E isso abre espaço para críticas em relação a Scolari, Dunga e até mesmo Tite - embora a caminhada na Copa do Mundo não tenha sido de todo péssima mesmo sem o camisa 10 na ponta dos cascos – por não terem encontrado muitas alternativas na ausência do principal jogador do Brasil. Obviamente, toda equipe que tem um craque acaba por sentir a sua falta quando ele está fora. Mas a Seleção tem mais jogadores, é a camisa que teve opções para ser campeão do mundo mesmo quando Pelé se machucou na Copa de 1962.
Scolari, Dunga e Tite não dividem a culpa apenas entre si. Neymar pode ser um personagem que desperta tanta empatia quanto antipatia, mas seria ele culpado por ser o único craque que resolve jogos para a sua Seleção? Ao longo das últimas décadas o Brasil continuou a revelar grandes nomes, que ou não conseguiram uma longevidade maior (casos de Adriano Imperador, que tinha 32 anos em 2014 mas já não era mais um jogador profissional, e Kaká, este por causa de razões físicas que minaram uma carreira brilhante que poderia ter durado mais) ou não estiveram à altura das expectativas enquanto vestiam a amarelinha.
Jovens que, por diferentes razões fracassaram ou ainda não conseguiram ter um protagonismo regular defendendo o Brasil: Alexandre Pato, Oscar, Willian, Douglas Costa e agora Coutinho. Talento de sobra, mas alguma coisa que faltava. Neymar provavelmente vai disputar a Copa América de 2019, uma vez que teve seu nome entregue na lista final para a Conmebol mesmo em meio à lesão no joelho. Mas como também acabou de se recuperar de uma nova lesão no mesmo osso do metatarso de seu pé direito, não deverá estar no 100% de suas faculdades físicas para o torneio. Além de Coutinho, que vem de péssima temporada pelo Barcelona, os nomes que aparecem com a expectativa de resolverem na eventualidade de um Neymar cansado ou ausente são Firmino [jogando mais recuado, armando o jogo], David Neres, Richarlison ou Paquetá. Dentre eles, somente o primeiro é mais experimentado na Seleção.
Enquanto o Brasil seguir a sofrer na ausência de seu protagonista, a cada vez que Neymar se lesionar a impressão é de que a camisa da Seleção fica cada vez menos pesada.
Não dá para seguir assim.
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